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Opinião: "Os meus dois pais" de Joel Pinto


"Os meus dois pais”

De Joel Pinto

Apresentamos-vos a nossa opinião ao livro do autor Joel Pinto. O tema é, para muitos tabu, e para todos, recorrente e "na ordem do dia". Quer isto dizer que o livro "Os meus dois pais", como o próprio livro indica, trata as relações homossexuais, melhor, a família com casais homossexuais.

É um tema que levanta muitas considerações, no entanto, tentaremos cingirmo-nos à crítica do livro.

Essencialmente a história gira à volta de Eduardo, um jovem arquitecto promissor, e Tiago um bonvivant, habituado a relacionar-se com várias pessoas. Ao passo que Eduardo é um jovem recatado e recto nas suas escolhas e decisões, Tiago pauta-se pela promiscuidade. Eduardo, terá em Tiago o seu grande amor, sendo que, e embora afirme sentir o mesmo, Tiago não se coíbe de o trair, acabando por ter um filho com uma mulher que o ameaça e arrasta, quase literalmente, para uma terriola longe de tudo, onde casa com Tiago na esperança de ser feliz. O que não sucederá, muito pelo contrário.

Devemos dizer que, no geral é uma história bem construída e bem pensada. Lê-se de uma assentada (demorámos menos de dois dias), apesar das suas mais de 500 páginas. No entanto, existem alguns pontos que não jogam a favor de uma história que tem tudo para resultar. Desde logo, esta vai-se desenrolando a partir de meados de 1980, ora, parece-nos que a mentalidade espelhada no livro, e considerando o tipo de conservadorismo do nosso país, não combinam. Dizemos isto uma vez que nos parece que o livro foi reportado para aquela época com a mentalidade de hoje, séc. XXI - 2014/2015.

Depois, existem pequenas incoerências como já existirem computadores portáteis e não existirem telemóveis, o que na altura, nem uma coisa nem outra estavam ao dispor de qualquer um. Mas aqui, nada de grave.

O que consideramos que faz a história perder "brilho" é a já referida promiscuidade de uma das personagens, para o tipo de texto a certa altura torna-se demais, parece que tudo dá lugar a que o personagem acabe por ter uma aventura sexual com uma nova pessoa. Um retrato da realidade ou não, quanto a nós apenas é excessivo no que respeita à história que nos é contada.

Tanto que, em algumas situações a linguagem também acaba por se revelar excessiva e desenquadrada, não havendo lugar, mesmo nos momentos mais românticos, a que o leitor possa, por si só, imaginar, visto que tudo é dito.

Não nos esqueçamos que o título nos remete para a temática de uma criança que terá dois pais, dois homens. E com o que acabámos de dizer, acaba-se por apenas se reter as aventuras dos dois personagens. Assim, ficamos sem perceber muito bem qual a real intenção do autor; relatar qual poderá ser a aceitação de um "novo" tipo de família, ou como lidam as pessoas com os relacionamentos de casais homossexuais. Ficámos confusos. Questionámo-nos ainda, se não haveria ali um toque biográfico, devido aos pormenores relatos, dever-se-á a isso ou então a uma grande imaginação.

O cômputo geral é positivo. Como referimos inicialmente é uma história boa de se ler, e serve também para se reflectir nas questões aí levantadas. A história do casal, no geral, acaba por atrair a simpatia do leitor e permite que este queira saber o que se passará em seguida.

Um ponto a favor para quem considera, como nós, que deveria ser permitida a adopção por casais do mesmo sexo (embora na história o autor não fale de adopção mas antes de haver um filho de um dos elementos, mas que traria questões legais se o pai biológico falecesse, e em certo momento da história dá para questionar o que faria o pai afectivo quando questionado "o que é à criança", quando o pai biológico não está.), tema que tem estado em cima da mesa no nosso país.

Será que Tiago, após casar e ver-se afastado de Eduardo, voltará a reencontrá-lo? Perdoará Eduardo uma traição? Se sim, conseguirão dar uma família a Rodrigo?

A nossa classificação: 3+

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