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Opinião: "A célula adormecida" de Nuno Nepomuceno


"A célula adormecida"

de Nuno Nepomuceno

592 páginas depois aqui estamos para opinar sobre este recente trabalho do Nuno. Em primeiro lugar devemos agradecer-lhe pela disponibilidade e todo o carinho e atenção que coloca na divulgação dos seus livros e por confiar em nós para a sua leitura e análise.

Foi o que sucedeu com os anteriores e com este novo trabalho. Confessamos que ficámos felizes pela confiança. No entanto, mais uma confissão, devemos dizer que já tínhamos este exemplar em nossa posse desde Outubro mas só agora lhe pegámos. Porquê? Perguntam vocês, pois bem, aguardávamos o momento certo. Sim, porque para os livros também há momentos certos e nós temos de o sentir. Este Célula Adormecida há muito que olhava para nós da estante, há muito que nos piscava o olho sempre que seleccionávamos um novo livro para ler mas, devemos afiançar que agora foi a altura certa. E se foi.

Passemos à análise em si.

Comecemos pela capa. A primeira coisa que vemos, o convite à leitura. Pois, bem... quer dizer... no início estranhámos.. mesmo quando passeávamos por livrarias lá estava ele a seguir-nos, talvez através dos olhos dos corvos... Pois é, contrariamente ao que diria Fernando Pessoa... Primeiro estranhámos, mas depois não entranhámos.

A capa não nos convenceu. Gostámos das capas da Trilogia Freelancer, eram simples mas apelativas. No caso concreto de A célula adormecida isso não aconteceu, não conseguimos ligar-nos a ela. Percebemos a ideia, intimamente ligada à história, percebemos o simbolismo, o qual é muito, também, por ter que ver com trama. Mas a capa em si... merecia mais. Falta qualquer coisa, ou tem qualquer coisa a mais.

Devemos salientar o estudo do Autor. Epá Nuno, - permitam-nos a expressão - que estudo. Nota-se claramente um bom suporte, uma limpeza na matéria, um filtro, uma explicação, uma exposição sem, no entanto, ser em demasia, sem ser maçador. Devemos até dizer que nos permitiu conhecer mais sobre o assunto, afastando-nos do empolamento das redes sociais, dos media, da opinião pública.

À semelhança dos anteriores livros, mas uma vez o Autor traz um trabalho bem conseguido em termos de estudo e estrutura. O que muito nos deixa felizes por ver Autores portugueses com tamanha qualidade.

Já sabem que não falamos da história em si, não é para isso que aqui estamos. Mas apenas vos fazemos chegar a nossa perspectiva quanto ao que lemos. E, bem, para quem acha que está diante de mais um romance, de mais do mesmo, de "finais felizes", esqueçam!

Nuno traz a verdade dos atentados terroristas, habilmente nos transporta para o mundo muçulmano, para as suas crenças e mais uma vez temos um livro com acção. Uma e outra vez demos por nós a pensar "não pode ser, outra vez"? Pois é, não sabem o que vos espera ao ler este livro. Não esperem bombas a rebentar por todos os lados, porque não, não se trata "só" disso, há toda uma dimensão que o Autor vai buscar que torna o livro mais rico. Viajamos muito além das bombas e conspirações.

Em certa medida poderá ser chocante, não que descreva cenas horríveis, mas porque descreve cenas que são reais e que não podemos virar a página e pensar "só nos livros". Porque não, acontece. Incomoda, mas acontece.

Não se trata apenas de um livros de ficção, romance, policial, enfim, o que lhe queiram chamar. Trata-se de um "abre olhos". Um safanão que nos dá.

Mas, também temos de analisar a parte "restante" toda a trama, além do tema em si.

Pois bem, há algo que já na altura da Trilogia nos fez confusão, mas não mencionámos porque podia ser mania nossa, mas desta vez temos de dizer, os nomes das personagens são muito, demasiado, pomposos. Até custa a crer que alguém os use assim constantemente. Não simpatizámos com os nomes dos personagem, os portugueses. Bastava, ao longo do texto, pelo menos para as principais, ir usando o primeiro nome, tornava tudo mais pessoal com o leitor. Fica o nosso apontamento.

Depois temos o personagem principal, Afonso Catalão, bem, não criámos empatia com ele. Talvez por ter uma carga negativa sobre ele, por parecer sempre cabisbaixo, sim é assim que o vemos, magro, ligeiramente curvado, com olheiras, expressão fechada. Embora ao longo da trama se perceba tudo o que o envolve pensamos que faltava ali qualquer coisa que nos fizesse ligar ao personagem. Faltou o elemento empático, mas até podia ser essa a intenção do Autor.

Mas não pensem que isso vos faz largar o livro. Porque não. Há demasiadas coisas a acontecer que, no fim, se ligam com uma perfeição que parece impossível.

Classificação:

- Escrita: 10

- História: 9,7

- Revisão do texto: 9,8

- Complexidade: 9

- Trabalho gráfico: 7

Total: 9,1

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em:TopBooks

Sinopse

«Assim queira Deus, o Califado foi estabelecido e iremos invadir-vos como vocês nos invadiram. Iremos capturar as vossas mulheres como vocês capturaram as nossas mulheres. Vamos deixar os vossos filhos órfãos como vocês deixaram órfãos os nossos filhos.» Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, 2014.

Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma reputada jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.

O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo, quando Afonso Catalão, um conhecido especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado.

De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena. A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.

Com uma escrita elegante e o seu já tão característico estilo intimista e sofisticado, inspirado em acontecimentos verídicos, Nuno Nepomuceno dá-nos a conhecer A Célula Adormecida. Passado durante os 30 dias do mês do Ramadão, este é um romance contemporâneo, onde ficção e realidade se confundem num estranho mundo novo e aterrador que a todos nos perturba. Um thriller psicológico de leitura compulsiva, inquietante, negro e inquestionavelmente atual.

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