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Opinião: "Tomada de Ceuta, Reconquista da paz" - Colectânea, Vários


"Tomada de Ceuta, Reconquista da paz"

Colectânea, Vários

No grupo de leitura em que participamos fomos desafiados a ler um livro até 100 páginas, nesse seguimento acabámos por pegar nesta colectânea organizada pela parceira Livros de Ontem.

Não sabíamos ao que íamos, não conhecemos os vários autores envolvidos no desenvolvimento da obra e, assim, a nossa mente ia em branco à descoberta das histórias que tivessem a contar.

Mas uma coisa sabíamos, teria a ver com a cidade de Ceuta. Isso extraímos do título, da sinopse e do prefácio. Tudo relacionado com aquela cidade.

Devemos dizer que às vezes até nos sabe bem ler uns contos, pois são histórias mais curtas e que nos permitem descontrair e ter momentos breves de leitura e reflexão. Mas não terá sido aqui o caso.

Passamos a explicar. Temos um livro composto por 5 contos e 1 poema.

Comecemos pelo fim, pelo poema, pois é, não percebemos o que o mesmo terá a ver com Ceuta, depois de ler os contos o poema pareceu-nos algo pendurado, ali sozinho. Mas claro, pode ser de nós, como vocês já sabem, não somos propriamente apreciadores deste género literário.

Quanto aos contos o que poderemos adiantar... sem revelar o seu conteúdo... bem, começamos bem, perdoem a repetição, com um texto de Ana Pombo, intitulado "Rumos perdidos em ventos armados", que nos conta os momentos vividos de ansiosa busca, pelos portugueses, por mais terras e riquezas, sendo que, neste texto testemunhamos a partida de fragatas para Ceuta.

Aqui, temos uma história de amor entre um marinheiro e a sua amada que fica em terra e as aventuras marítimas (e mais não podemos contar). Estávamos a gostar da história, mas achamos que o final deixou algo a desejar, foi um anti-clímax. Não nos satisfez.

De seguida, surge-nos o texto de Helena Nogueira, intitulado "Entre um mundo e o outro", soube a pouco, ou quase nada. Embora refira Ceuta. Faltou mais qualquer coisa, quase que nos parece um texto escrito só para cumprir prazo, como se tivessem perguntado à autora "o que sabes sobre Ceuta" e ela houvesse respondido "pouco, o que aprendi nos bancos da escola" (não estamos longe da realidade, o mesmo é referido no texto).

Mas no conto esclarece-nos quanto a uma tia, ficcionada ou não (não sabemos), que se mudou para a América após a morte do marido...No entanto, gostámos das últimas linhas do conto, curiosamente, refere Ceuta, e a forma como se terá entregue aos Espanhóis. E não só, embora tenhamos referido que faltou qualquer coisa, foi dos textos que mais gostámos, ainda assim. Contraditório? Talvez. Se por um lado trata de Ceuta com despreocupação, por outro tem algumas descrições palpáveis, como a cor de Ceuta ser a cor de mostarda. É daquelas coisas, primeiro estranha-se e depois...

O terceiro conto é de João Barroso, intitulado "Crónica da tomada de Ceuta", é isso mesmo, sem tirar nem pôr, uma crónica, curta, breve, e quase nem lhe sentimos o cheiro. Muito breve e leve. O conteúdo está lá. Ceuta também... Mas, ficou a faltar algum tempero.

Miguel Raimundo traz-nos o seu texto intitulado "Migrantes e torna-viagem", pouco ou nada tem que ver com Ceuta, fora uma lembrança da protagonista, relativamente a uma história contada por um familiar quando ainda era criança, em que um antepassado andara à conquista de Ceuta, uma alusão brevíssima. De resto, o conto retrata um casal que, insatisfeito, parte à procura de uma vida melhor fora de Portugal e se cruza com uma família Síria que vem para a Europa à procura de uma vida melhor. Seria um texto interessante - e até o é - se apresentado noutro tipo de colectânea, aqui pouco cheirou ao prometido - Ceuta.

Aqui apontamos aquela falha - como já dissemos em publicações anteriores, há frases em inglês não traduzidas, já dissemos, poderão haver leitores que não dominam a língua, mesmo que basicamente, e não traduzir frases ou textos é uma falha, quanto a nós, que não deverá ser deixada em branco.

Por último, o autor Renato Martins, com o seu texto longamente intitulado "Aquella naturall suydade com que sse as almas partem das carnes", fala-nos de Ceuta, mas com um texto difícil e complicado de se ler. Pelo menos a nós foi-nos difícil gostar dele. Aliás, não gostámos pois não conseguimos retirar qualquer prazer, enquanto leitores, do texto. Também é verdade que andamos cansados devido à actividade profissional, no entanto, é um texto pesado. Certamente que em qualquer altura teríamos o mesmo sentimento. Embora seja um texto curto, com pouco mais de 9 páginas, e que até começa bem, à medida que se avança a linguagem torna-se complexa, exigindo muita atenção o que acaba por nos dispersar.

No geral, não podemos dizer que foi um livro que nos decepcionou por não foi, porquê? Porque não pegámos nele com expectativas, íamos com a mente em branco relativamente ao mesmo. É uma colectânea que prometia e merecia mais. Como repararam ficou-se pelos "quase", até nos custou usar essa palavra várias vezes (até eliminámos algumas).

No entanto, sabíamos que encontraríamos textos com uma linguagem mais séria e cuidada, pois tem sido esse o apanágio da editora. O que não é mau e se reflectiu também neste livro. Mas às vezes é preciso limar aqui e ali para que os textos não fiquem pesados, principalmente os curtinhos e os muitos longos (aqui estamos na situação dos curtinhos pesados). Há que encontrar equilíbrio.

Ficámos mesmo com o sentimento de "foi quase", estava quase lá. Não odiámos, porque não. Mas também não adorámos.

Se o leitor é alguém que não tem paciência para livros grandes e com tramas densas e corridas, preferindo contos que lê de vez em quando, então deverá apostar neste exemplar. Porque se lido soltamente, um conto aqui e outro ali, poderá gostar. Mas para quem gosta de uma leitura corrida, uniforme, talvez não seja a melhor aposta.

Para finalizar, devemos dar conta sobre a capa. Gostámos do trabalho apresentado. A capa atraiu-nos, apelativa e mimosa. Mesmo no interior é apresentado um bom trabalho gráfico.

Classificação:

- Escrita: 7

- História: 5

- Revisão do texto: 9,8

- Complexidade: 5

- Trabalho gráfico: 10

Total: 7,36

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Livros de Ontem

Sinopse

600 anos depois são múltiplas as evocações e os significados da “conquista de Ceuta” pelos portugueses. Seis autores regressam a Ceuta com histórias, memórias e vislumbres de futuro. 600 anos depois a humanidade parece viver os mesmos caminhos da guerra e da intolerância. Seis séculos depois urge “reconquistar” a possibilidade de paz.

“Tomada de Ceuta, Reconquista da Paz” reúne contos de Ana Pombo, Helena Nogueira, João Barroso, Miguel Raimundo e Renato Martins, bem como poema de Nuno Vicente e prefácio de Samuel F. Pimenta.

“Seiscentos anos após a conquista de Ceuta pelos portugueses, surgir um livro que traz à tona essa memória é da maior pertinência. Pois Ceuta já não representa apenas o início da expansão marítima portuguesa. Ceuta, hoje, é um entre tantos episódios do confronto civilizacional entre a Cristandade e o Islão.

“Prefácio”, Samuel F. Pimenta

Destaque
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