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Opinião: "Contagem decrescente" de Bruno Franco


"Contagem decrescente"

Bruno Franco

"Porra, que nunca mais acabava!" (desculpem a linguagem), foi esta, literalmente, a expressão que soltámos quando terminámos este livro.

Vamos então saber porquê.

Como está explícito na sinopse, o detective da PJ, Rodrigo, tem até ao dia 15 de Janeiro para solucionar um caso. Até aqui tudo ok, pensámos, Boa! um policial!, mas depois a coisa vai ficando um pouco menos entusiasmante.

Vejamos, a história é engraçada, não está mal escrita. Já lemos coisas muiiitttooo piores. Tem uma trama diferente, embora o "fundo" não seja inovador. Cruzam-se histórias diferentes, de diversos personagens, que se acabam por complementar.

No entanto, Rodrigo, o personagem principal, não nos emocionou. Tem uma história triste por detrás da sua decisão definitiva de ser detective da PJ o que condiciona, em muito, a sua vida. A forma como o personagem é apresentado fez-nos não nos ligarmos a ele, não houve empatia. Foi até enfadonho. Previsível. Aquele jovem descrito como admirado por todos e com um passado triste e escondido, sempre com uma expressão algo fechada... Enfim, o seu percurso nesta história não é novo, ou seja, não há nada que nos faça suspirar por ele, concordar com ele, segui-lo. Não...

Acresce a isto o facto de este livro ser a continuação de um outro... pouco ou nada divulgado. Na badana deste livro apenas podemos ver que é o segundo do autor, mas em lado algum há referência a que este "Contagem decrescente" seja o segundo volume da história de Rodrigo. Pois é, uma falha. Grande, para nós.

Podem perguntar-nos, "Ora bolas, Livros de Vidro, então mas não se pode ler em separado?", e nós respondemos, "pode ler-se em separado, pode". Mas não é a mesma coisa. Se é um facto que o autor nos vai situando e vamos percebendo, pelo menos minimamente, o que está no livro anterior, a verdade é que ao ler este original sem o anterior ficamos sem muita informação. Acabamos por não entrar plenamente na história, sem percebermos determinadas relações e a sua amplitude. Falta ali qualquer coisa, um qualquer coisa que certamente nos ajudaria a ver Rodrigo de outra forma. Ou, pelo menos, ajudar-nos-ia a perceber melhor as suas atitudes ou a sua forma de trabalhar.

Porque, devemos dizer-vos, há muita coisa estranha. Em termos profissionais Rodrigo é tido como um dos melhores detectives da PJ, no entanto, a sua forma de trabalhar é desleixada. Pouco ponderada e estudada. É mesmo pouco profissional. Deixamos no ar: ter-se-á isso reflectido no resultado final?

Devemos dizer que há trâmites legais enunciados na trama que não fazem sentido, e no final, menos sentido tiveram. Aí consideramos que o autor deveria ter dado a volta de outra forma. Pois como contou, numa situação real, levaria a muitas perguntas e problemas. Sim, sabemos que é ficção, mas é uma ficção/real. Com base no quotidiano português, no nosso dia-a-dia e não existe qualquer referência ao leitor relativamente a alterações ficcionais daquilo que é normal ou legal. Pelo que, mantemos, há ali arestas pouco limadas e irreais. O que não ajudou a que simpatizássemos com determinadas coisas, além do pouco profissionalismo de Rodrigo.

Outro ponto negativo da trama é a pouca cisão entre espaços e tempos. Só na recta final é que percebemos o paralelismo no tempo face a uma personagem. Não houve indicativo temporal. O hodierno e o pretérito andavam lado a lado sem indicação.

Mais uma nota, o livro é grandito, mais de 500 página. Tem alguma palha, que torna a história aqui e ali lenta e daí a nossa expressão "nunca mais acaba". Podiam ter sido retiradas algumas partes ou simplificadas. A narrativa não teria perdido com isso. Pelo contrário.

Por fim, devemos sublinhar que o livro não merece nota negativa. Porquê? Porque, apesar de tudo o que vai dito - lá está, é a nossa crítica mais sincera e tentando não esconder pontos - , é um livro que se lê bem.

Tem uma leitura rápida (nós é que temos pouco tempo), não tem uma linguagem difícil, embora se note aqui e ali algum cuidado extra, tem diálogos - e nós gostamos disso -, a narrativa vai-se desenrolando e é leve. Não é tão "excruciante, desumano e aterrorizante", como descrito na sinopse, não é. Mas podemos dizer que o mau da fita quis passar para um volume III, pois, é verdade.

Parece-nos que Rodrigo vai voltar. É que o mau da fita, Valter, elaborou um esquema... E os seus intentos podem não ter terminado por aqui (e mais não dizemos).

Se gostam de policiais não muito pesados, este é um bom livro. Tem de tudo um pouco. Leve e rápido de ler. Bom para o verão.

Classificação:

- Escrita: 7,8

- História: 7

- Revisão do texto: 8

- Complexidade: 6

- Trabalho gráfico: 7

Total: 7,16

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Chiado Editora

Sinopse

31 de Dezembro. Passagem de ano.

Rodrigo Tavares, um proeminente detective da Polícia Judiciária, encontra-se em Almada para assistir ao espectáculo pirotécnico quando recebe um telefonema que muda a sua vida por completo, levando-o a perceber que tinha chegado o momento que tanto temera: a concretização de uma ameaça homicida proferida pelo assassino que mais lhe custara capturar no passado.

Rodrigo tem até dia 15 de Janeiro para deter o assassino, ou as consequências serão devastadoras. E não apenas para si.

Quando o detective observa a forma excruciante e desumana como a primeira vítima fora assassinada, percebe a importância e a seriedade do que está a acontecer, e é então que começa a corrida contra o tempo.

O que começa por ser uma caça ao homem transforma-se rapidamente em algo muito maior e aterrorizador. Ao mergulhar num mundo de trevas e muitas dúvidas, medo e desespero, Rodrigo receia o futuro como nunca antes o fizera.

Destaque
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