top of page

Opinião: "A boa vítima" de Hugo Picado Almeida


"A boa vítima"

de Hugo Picado Almeida

Bom dia leitores, iniciamos 2018 com uma nova opinião.

Hoje trazemos este "A Boa Vítima" e temos a dizer que não foi uma leitura fácil.

Isto porque, temos um Senhor Clastres, com o qual não simpatizámos, monótono e carrancudo. Mas este parece-nos ser o objectivo do autor. Como diz a sinopse: "Sem desejos nem ambições, sem vontades de espécie alguma, não desejava senão enfiar-se em casa, refugiando-se do oceano de estímulos e entregando-se aos confortos anestesiantes dos electrodomésticos zumbindo em torno de si."

Temos um Clastres desinteressante. E uma história muito complicada de ler.

Encontramos um texto muito denso, se é certo que tem uma escrita cuidada e atenta, também é certo que é demasiado. Demasiado densa, demasiado extensa, enfim. Demais.

Para ler este livro temos de estar bem atentos e desligar tudo à nossa volta. Precisamos de estar com a máxima atenção. Muitas vezes temos de voltar atrás para reler o que foi dito pelo narrador. Um narrador que facilmente se dispersa e nos distrai.

Mas se dissemos que não simpatizámos com Clastres, devemos também dizer que na segunda metade do livro gostámos mais dele e preferíamos ter acompanhado mais a sua história, isto porque, definitivamente, não gostámos do Senhor Gualter Ortabecassuz, seu vizinho.

Passamos de uns personagens para os outros de forma quase caótica.

Não sentimos que tenha sido uma leitura prazerosa, como dissemos, torna-se muito complicada. Deixou-nos demasiado tensos e concentrados para que pudéssemos desfrutar ao máximo.

No entanto, isso torna, de certa forma, a sua leitura desafiante. É um desafio à memória e à concentração.

É um livro ideal para quem gosta de livros densos e desafiantes.

Deixamos a nota para o final do livro, inesperado, ou talvez não. Acabámos com pena do senhor Clastres.

Quando estiverem com este livro na mão e indecisos se haverão de o ler, aconselhamos, leiam o posfácio, principalmente a última frase. Parece-nos resumir perfeitamente o que encontramos no livro.

Classificação:

- Escrita: 7

- História: 7

- Revisão do texto: 9

- Complexidade: 5

- Trabalho gráfico: 8

Total: 7,2

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Livros de Ontem

Sinopse

O senhor Clastres era um Homem moderno. Reformulemos: o mais moderno dos Homens. Sem desejos nem ambições, sem vontades de espécie alguma, não desejava senão enfiar-se em casa, refugiando-se do oceano de estímulos e entregando-se aos confortos anestesiantes dos electrodomésticos zumbindo em torno de si. O senhor Clastres passeava-se pelo mundo sem representar qualquer benefício para a vida ao seu redor, alheado de todos os seus aspectos, e talvez dele se pudesse mesmo dizer que nem pesava sobre a terra, não fosse a difícil relação que os demais transeuntes da Rua com R mantinham com aquele sujeito que em xeque colocava as vidas de cada um.

Um dia, porém, a passadeira rolante que todos os dias o senhor Clastres usa para se deslocar ao trabalho pára com ele sobre ela, e aquela impossibilidade subitamente rasgando o campo da sua estatística mental coloca em marcha a traição da técnica, que rapidamente culmina na prisão do senhor Clastres, indivíduo que a sociedade e as suas instituições obviamente não podiam compreender, e que assim acabam a selar-lhe o destino.

Entre tudo isto, cruzamos caminhos com Bela, mulher feia e sempre de atalaia na sua janela, espiando o arruamento; com a desconcertante senhora Kopecky, «hibridação entre bruxa e coruja, uma mulher sem idade»; com Lora Brunell, sedutora jovem que ceifa o chão ao senhor Ortabecassuz, vizinho do senhor Clastres e seu inverso sentimental, que ultimamente vem ocupar o lugar do primeiro na trama, devolvendo o Clastres ao mundo e o Humanismo ao livro.

Destaque
bottom of page