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À conversa com a ilustradora Mariana Flores


À conversa com...

Mariana Flores

Livros de Vidro - Diz-nos, quem é Mariana Flores?

Dizem que somos definidos pelas nossas acções. Ora as acções mais frequentes da Mariana Flores são: beber chá (umas três ou quatro vezes por dia); cuidar da bicharada (ou das plantas que ainda sobrevivem aos meus cuidados); desenhar em papel ou no computador (aos fins de semana e feriados também); passar tempo com amigas que também desenham (a desenhar outra vez); jogar Dungeons & Dragons (ou outros jogos geek); ler antes de dormir (e adormecer a pensar nos próximos desenhos).

Como e porque é que entraste no mundo da ilustração?

A ilustração deveria ter sido evidente para mim: adoro livros e adoro desenhar. Ilustrar é unir esses dois mundos. No entanto, isto não foi logo óbvio quando estudei na universidade nem quando me iniciei no mercado de trabalho, pelo que me dediquei ao cinema de animação e à produção de jogos durante algum tempo. Não considero que tenha sido tempo perdido, pois aprendi imensas coisas que aplico hoje à ilustração, e continuo a adorar fazer arte para jogos e animação quando surgem projectos.

Como defines o teu traço?

Diria que o meu traço é arredondado, de contornos bem definidos, linguagem infantil e influências Disney. Ainda estou a tentar chegar a um “estilo”.

O que te serve de inspiração?

A literatura, as histórias de vida das pessoas e o trabalho de outros artistas. Consumo arte diariamente para estar constantemente disposta a desenhar. Quando se faz disto profissão, não se pode estar à espera da inspiração para começar a trabalhar!

O que mais gostas de desenhar?

Adoro desenhar animais e crianças. Tudo o que sejam formas redondas ou orgânicas sai-me mais naturalmente. Já os veículos, edifícios, objectos compostos por linhas direitas tornam-se um desafio para mim - o que não quer dizer que não me dê prazer desenhá-los.

Se não fosses ilustradora o que serias?

Esta é fácil! Se não fosse ilustradora (ou outra profissão dentro do mundo das artes) seria veterinária.

Como é ser ilustradora em Portugal? Há oportunidades? Trabalho?

Existem oportunidades e trabalho porque não me restrinjo a Portugal. Enquanto freelancer, é possível trabalhar a partir de casa para o mundo. Ser ilustrador em Portugal não é fácil, mas penso que os problemas que a profissão acarreta são comuns em qualquer país. O que acontece por cá é que de momento há uma grande procura por determinados estilos mais gráficos, que não correspondem ao meu traço. Por isso acabo por ter mais trabalho para fora.

De onde saiu ‘Bunya’?

Uma vez entrei numa loja de animais e estava lá uma coelha por quem me apaixonei. Ora, eu já tenho um cão, dois gatos e dois ratos, por isso não precisava de uma coelha. Fui para casa e forcei-me a não voltar à loja durante um mês. Quando lá voltei e ainda lá estava a mesma coelha, soube que tinha de trazê-la para casa. Chamei-lhe Bunya. Ao brincar com ela, dei por mim a fazer uma coisa que fazia em criança: imaginar como seria o mundo à escala da coelha. E se houvesse um humano tão pequeno que conseguia montar nas costas da coelha para irem em aventuras? E assim surgiu a personagem da menina. Por mais que pensasse em nomes para ela, só me ficava na cabeça o nome da coelha, e então decidi que na história a menina é que se chamaria Bunya, sendo que a coelhita não tinha nome. Comecei a fazer desenhos das duas.

Existe um desafio internacional de desenho chamado Inktober, que consiste em fazer um desenho usando tinta todos os dias do mês de novembro. Propus-me a participar, fazendo sempre desenhos centrados no mundo da Bunya e da sua coelha, possíveis interacções com animais e situações que tivesse de ultrapassar. Cheguei ao final do mês com 31 ilustrações a tinta da china, que estiveram em exposição no evento Matinés na Aldeia, na Tremoceira.

Durante todo este processo fui pensando sobre como se poderiam ligar estas ilustrações com um texto. Finalmente surgiu um momento em que consegui escreve-lo e compilar as imagens e história num pequeno livro.

Este teu livro foi uma edição de autor. Porquê?

Sempre quis ter uma fanzine! Existem feiras e festivais dedicados a este tipo de publicação independente, o livro de autor. Sempre quis ter um livro que fosse 100% meu e que pudesse levar para eventos. Publicar com uma editora é essencial para garantir boa publicidade e distribuição de um livro, mas neste caso o objectivo não era fazer algo em grande, era só fazer algo sozinha, como um exercício. É claro que como não posso pagar por muitas impressões, o número de exemplares é muito limitado. Mas aprendi com a experiência e comecei o ano com a sensação boa de ter criado algo meu.

Como olhas para o panorama editorial português?

Acho fantástico! Há novas editoras de qualidade a ser criadas e muitos livros a sair. Há uma grande rotatividade no mercado, o que por um lado é bom, porque vai dando trabalho a quem produz os livros, mas por outro lado é mau, porque os livros ficam pouco tempo em destaque pois rapidamente terão de dar lugar a outro. O que acho problemático é que comprar um livro na sua edição original (em inglês, por exemplo) continue a ficar a metade, senão por vezes a um terço do seu preço em português. Depois queixam-se que as pessoas não compram livros. Se o trabalho de tradução fosse muito bem pago compreendia-se, mas nem é.

Consideras que os ilustradores veem o seu trabalho reconhecido?

Os melhores veem, sim. Temos ilustradores excelentes em Portugal, ainda agora quatro ilustradores portugueses foram nomeados para prémios na Feira do Livro Infanto-Juvenil de Bolonha (uma das mais importantes na área).

Há mais livros imaginados?

Há, sim. Estou de momento a fazer ilustrações para um livro de um autor americano. Como ilustradora e autora, vem aí uma banda desenhada com desenho e argumento meus, que será publicada na colectânea Apocryphus. Há ideias para um novo livro infantil, mas ainda está em fase de incubação…

Se sim, são do mesmo género de ‘Bunya’?

Não. A banda desenhada que aí vem é para um público adulto, e o livro infantil que estou a pensar fazer será diferente em tudo, estilo, história, estrutura… Mas ainda podem demorar alguns anos até ter algo para mostrar deste projecto.

O que pensou ao ver-se em ?

Gostei bastante! Fiquei feliz por ver que a experiência de leitura foi positiva, mesmo tratando-se de um livro tão pequenino, as questões levantadas foram pertinentes e acabei por aprender bastante sobre aspectos a ter em atenção num próximo projecto.

O que aconselhas a quem nos segue e quer ler o teu livro?

Para quem não conseguir comprar, estou a pensar doar um exemplar (juntamente com exemplares de publicações anteriores) à Biblioteca Afonso Lopes Vieira em Leiria. Assim, se tiverem curiosidade poderão sempre consultar lá.

Por fim, onde poderá ser adquirido o teu livro?

Tratando-se de uma edição de autor, a única maneira de adquirir o livro é contactando-me directamente, por exemplo através da minha página de facebook (Mariana Flores illustration) ou pelo email info@marianaflores.pt.

Deixamos o nosso agradecimento à autora pela disponibilidade.

Janeiro 2018

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