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Opinião: "Janelas Imperfeitas" de Zília Gonçalves


"Janelas Imperfeitas"

de Zília Gonçalves

Boa tarde leitores, iniciamos esta semana com mais uma opinião. Desta vez trazemos um livro que conhecemos desde que era apenas uma história escrita em folhas A4, ainda a autora não sabia como trazê-la ao público.

Passado mais de um ano voltámos a lê-lo, desta vez revisto, editado e lançado sob a alçada da Sana Editora.

Quando o recebemos já nas condições acima descritas, confessamos que sentimos receio em voltar a lê-lo. Porquê? Porque quando conhecemos o texto quase em 1ª mão gostámos do que ficámos a conhecer.

Foi um texto que nos surpreendeu pela forma como estava escrito e estruturado. Apesar de ser o primeiro livro da Autora, esta apresentou um texto sólido e uma forma muito clara e arguta de se expressar e de contar uma história.

Apresentou-nos um texto cativante e engenhosamente escrito. Uma trama que se nos apresentava também bem estruturada, com pés e cabeça e com um lado histórico bem definido e contado de uma forma inteligente.

Volvidos alguns meses eis que nos chegou a notícia de que o texto iria ser lançado e, após algum tempo, nos chegou às mãos o livro finalizado. A editora confidenciou-nos algumas "alterações" e afinações no texto o que, para dizer a verdade, nos assustou.

Como referimos, gostámos do livro apresentado inicialmente, e olhar para ele posteriormente e saber que foi mexido deixou-nos receosos. Talvez isso também tenha contribuído para que demorássemos a pegar novamente nele.

Se por um lado queríamos voltar a lê-lo e apreciar o resultado final, por outro, tínhamos receio. Deixámos passar algum tempo, tanto para que a história originalmente lida assentasse na nossa memória, como para encontrar o momento mais oportuno e indicado para o ler.

Demorou, sabemos que sim. Não o lemos assim que nos chegou. Mas era certo que o iríamos ler. O momento chegou e, como dissemos, tínhamos receio do que iríamos encontrar, e foi com esse mesmo receio que lhe pegámos há uns dias atrás. A verdade é que demorámos cerca de uma semana a (re)lê-lo.

Haver-se-ão de se estar a perguntar o que achámos da edição do livro, pois bem, temos de dizer que encontrámos, por comparação, um texto mais leve, com uma leitura ligeiramente mais rápida e, talvez, fluída.

A essência do livro está lá e a história também, no entanto, notámos aqui e ali algumas alterações que nos foram fazendo franzir o sobrolho. Há uma que não nos convenceu, mas que não afectou o todo do livro, para quem lê esta trama publicada não se irá aperceber de nada e terá um bom livro em mãos.

Os capítulos finais também estão diferentes, não é algo que esteja necessariamente mal pensado, mas consideramos que não era premente para permitir a continuação da trama, ela já exigia uma continuação. Com a alteração dos últimos capítulos acrescentou-se mais alguma informação e reescreveu-se a história. Isto deixou-nos um pouco mais curiosos do que já estávamos relativamente à continuação do enredo. (sim, há continuação, ao todo serão - se não estamos em erro- três livros).

O leitor, se decidir ler este livro, irá encontrar a história de Rosário, desde que é jovem até à idade adulta. Uma trama que se inicia no século XIX e que nos vai mostrando vivamente como eram os costumes da época.

A Autora Zília conseguiu inserir elementos históricos e fundi-los no seu romance de uma forma muito inteligente e ao nível de grandes romancistas históricos. Não encontramos um livro pesado nem enfadonho, muito pelo contrário, viajamos desde as terras mais recolhidas do nosso país até às férias do senhores na figueira rodeados dos seus criados, passamos pela capital e por Coimbra numa azáfama literária que pouco tempo nos deixa para pensar.

Maria do Rosário mostra-se uma mulher de coragem num tempo que era de reis e fidalgos. Uma mulher que quer fazer o seu caminho e que o fará sem medo de arregaçar mangas.

Uma trama deliciosa.

Surpreendeu duas vezes.

Classificação:

- Escrita: 9

- História: 9

- Revisão do texto: 9

- Complexidade: 9

- Trabalho gráfico: 8

Total: 8,8

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Sana Editora

Sinopse

Do passado ao presente, surge sempre aquela janela que muda de aparência de acordo com a idade. Tanto pode ser uma janela nova que abrimos e nos permite ver nitidamente, como pode ser a já velhinha, que persiste em manter intacta a curiosidade de quem teima vislumbrar, para além da vidraça, aquilo que se apresenta esbatido pela decrepitude da velhice.

Não tivesse aquele inverno de 1884 sido extraordinariamente chuvoso e a cheia não tivesse arrastado, na correnteza, o pai e a mãe da menina, provavelmente a sua vida teria sido bem diferente. Teria perpetuado, na sua geração, tudo aquilo que iria aprender, desde a taleiga com o grão, até à taleiga com a farinha. O moinho do Corgo das Mós e as redondezas seriam os seus horizontes possíveis.

Desceria a Manteigas para a comunhão, o casamento, o batismo dos filhos que Deus lhe desse, e poucas mais vezes sairia dali.

Quis o destino, ou outra força qualquer, que assim não fosse!

A tragédia, que se abateu sobre esta criança, determinou tudo o que viria a acontecer...

Este é um romance que revela ao leitor a vida e a luta de Maria do Rosário, mas que também dá a conhecer,

com pormenores, fruto de uma grande investigação por parte da autora, um retrato da vida entre os finais do séc. XIX e o início do séc. XX.

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