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Opinião: "Islâmicos 14:38" de Isaac Jaló


"Islâmicos 14:38"

de Isaac Jaló

Boa noite leitores. Trago hoje mais uma opinião, esta é a quente, a ferver. Acabei agora mesmo de ler o livro do autor Isaac Jaló, Islâmicos 14:38, que me foi gentilmente cedido pelo mesmo.

Como sabem, a opinião irá ser publicada da forma mais sincera que conseguir.

Não sabia o que esperar quando recebi este livro. A capa, de um vermelho vivo e uma jovem de cabeça coberta, só revela algo se conjugado com o título. No entanto, mesmo após lida a sinopse, pouco mais se extrai que não seja a relação com o Islão.

E este tema é melindroso, não só por tudo o que tem acontecido, relacionado com ataques terroristas, mas também porque uma má abordagem ao tema poderá ser fatal, tanto para o autor, como para aqueles que quer retratar, mesmo que ficcionalmente.

Já aqui falei de um escritor que admiro e que tem feito um trabalho brilhante nesta matéria, falo de Nuno Nepomuceno, e começar a ler um livro sobre o mesmo tema de fundo fazia-me sentir algo desconfortável. Porquê? Bem, o Islão não é algo que domine e aquilo que vou conhecendo prende-se, essencialmente, com os livros do Nuno e com o que se vai sabendo pelos meios de comunicação.

Apesar de tudo o que tem acontecido, nunca dei por mim a apontar o dedo à religião A ou B por conta de actos terroristas ou vis de pessoas tresloucadas que o fazem, erradamente, invocando o nome de entidades e crenças que se sabe nada professarem a respeito de guerras e massacres.

Mas ler livros sobre isso, quando o tema é quente e melindroso - e, confesso, desconhecido para mim - deixava-me desconfortável e temendo uma má condução do mesmo, como já referi.

Mas este livro veio parar-me às mãos como nova leitura, por força da caixa dos papelinhos de que já falei (uma tentativa de evitar que os livros vão ficando esquecidos e assim sejam seleccionados à sorte e em iguais circunstâncias).

Debruçando-me agora sobre este livro em concreto, há algumas coisas a dizer a respeito do mesmo.

Antes de mais, surpreendeu-me pela forma como está escrito. Escrito de uma forma fácil de ler e, algo de que gostei bastante, muito bem estruturado. As ideias vão-se encadeando com sentido e não se deixam pontas soltas e penduradas.

Outra coisa de que gostei foi do facto de, apesar de estarmos diante de um romance, o autor não se perder em dramatismos romanescos. Veja-se que, este livro está recheadíssimo de acontecimentos que nos fazem querer avançar na leitura, são acontecimentos atrás de acontecimentos que me fizeram suster a respiração, antecipar temas e ter ganas de apertar pescoços e, tudo isso, sem que o autor perdesse o foco, e acabasse por dar o fim imediato às situações sem andar a enrolar o desfecho. Um ponto muito positivo para isso.

Não se pode dizer que haja um personagem principal, pois, no seio de uma família vários vão assumir destaque a seu tempo. Mas tudo começa com Safiya, uma jovem muçulmana, algo rebelde e irreverente que acaba por ver a sua rebeldia mudar-lhe a vida e a partir daí muita coisa muda e a vida de todos à sua volta começa a mudar também, levando-nos a uma viagem corrida com ela, Umar, Fátima, Mafalda e Mussa.

Foi um livro que se revelou maduro e com ideias bem assentes, o que me agradou. Apesar de não me ter identificado plenamente com a escrita do autor, a sua forma de usar as palavras, o que é algo muitíssimo pessoal, gostei de ler o que construiu e não teria reservas em voltar a ler algo do mesmo.

Podia, e quase vos ia, dar um cheirinho daquilo que podem encontrar no livro, no entanto, isso faria com que o efeito surpresa se perdesse e acho que isso é o que traz mais impacto neste livro.

Já li muito e houve uma situação particular que, quando se começou a desenrolar, se me denunciou quase sem dúvidas. Devo dizer-vos que me surpreendeu ver um homem escrever sobre isso e de uma forma tão digna. Há anos que não lia algo assim sobre o assunto.

Não vos digo o quê e convido-vos a ler este livro para descobrirem, não será o que esperam.

Mas, nem tudo são rosas para este primeiro romance de Isaac Jaló. Apesar de tudo o que disse, e que reforço, devo também apontar as falhas que encontrei e que mais foram dificultando a leitura do seu romance.

Durante a leitura deparei-me com alguma palha, há muita coisa no texto, muita informação, desnecessária e que torna a leitura cansativa. Há alturas em que o autor descreve demasiado as emoções e os momentos vividos pelos personagens.

Outro ponto, que só menciono esporadicamente, é a falha na revisão. Erros, gralhas, palavras muito cuidadas aqui e outras em calão ali que foram desequilibrando o texto e muitas outras palavras repetidas. Este ponto e o anterior teriam beneficiado imenso com uma boa revisão. Com aquela, o romance teria ficado extraordinariamente beneficiado. Isto porque, o autor não escreve mal. Longe disso, falta, parece-me, uma orientação e alguém que diga onde e como limpar o texto.

Também faltou algum cuidado na paginação, pois houve mudanças de cenário/personagem que não ficaram marcadas o que baralhou a leitura.

Mais devo dizer que, o que me "matou", e "matou" a história, foi o final. Não que, não aceite finais infelizes ou diferentes ao esperado, nada disso, nem é disso que se trata, simplesmente porque este livro não o tem. Isso mesmo. Depois de tanto ler e de tudo estar a ir bem, o autor dá um tiro no pé.

Digo isto porque, há determinada situação a desenrolar-se, de aflição e ansiedade e quando chega o momento chave, a hora H, puff. Acaba. Tem mesmo escrito "Fim". Mas vejam que, no texto, a frase nem acabada está.

Vou transcrever:

"(...) O coração de Umar, outrora esmorecido, agora acelerado como se tivesse ganho novo fôlego, a ansiedade na respiração, a mão na testa, os suspiros, o suspense, o

FIM"

em Islâmicos 14:38, pp. 452 de Isaac Jaló

Assim. Sem mais. Se a intenção era este livro terminar sem uma continuação, então o final deitou abaixo toda a história lida, ate porque, toda a trama quer um final para que faça sentido.

Se a intenção, por outro lado, era ter continuação, então, o autor deveria, no mínimo, ter terminado a frase com lógica e não ter escrito "fim". Ou deixava ficar só com a frase final ou com "continua". Como está, deixou-me algo "chateada", depois de tudo o que tinha lido, estando a correr tudo bem para a análise da trama este final não conjugou.

Outra hipótese, que equacionei, foi ter existido algum erro de paginação que houvesse cortado texto.

Seja como for, como acabou, não só me deixou frustrada, como levantou um pensamento: não saber, numa eventual continuação, se haverá matéria para outro livro.

Fico com receio que - a existir outro volume- possa estragar a história já contada.

Para mim, se tivesse continuado com a linha de escrita e construção da trama que tinha tido até então, teria sido perfeito.

Como está, tenho reservas. Gostei do que li até ao momento em que tudo poderá ter ficado comprometido.

Se houver continuação espero ter a oportunidade de ler, embora as minhas reservas tenham ficado no auge.

Conclusão: um livro que se lançou bem. Que correu bem, até chegar à última página.

Ps: Achei graça ao título, quase no final faz todo o sentido.

Classificação:

- Escrita: 8

- História: 8

- Revisão do texto: 5

- Complexidade: 10

- Trabalho gráfico: 8

Total: 7,8

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Chiado Editora

Sinopse

“E, depois de escutar a história de Umar, conviver com Safiya e conhecer aquele lado de Mustafa, convenceu-se mais ainda sobre isso. Afinal, eram pessoas com múltiplas emoções e perspetivas, todas elas diferentes, unificadas pela crença em Deus. E era esse o grande traço de separação, a crença.”

Num mundo onde os valores morais são postos à prova diariamente, vive Fatumata, adolescente nascida e criada no seio de uma família de muçulmanos, cujas tradições lhe estão marcadas a ferro e fogo no corpo e que vê a sua inocência ser-lhe arrancada da alma, impotente. É na sua crença que vai encontrar a força para escolher um novo caminho para percorrer. Esta é a história do amor, da fé, da vontade e da perseverança, contada pela voz de alguém que acredita.

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