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À conversa com a escritora Isabel Ricardo


À conversa com...

Isabel Ricardo

Livros de Vidro - Diga-nos, quem é Isabel Ricardo?

Uma pessoa simples. Alguém que adora escrever, ler, viajar, rir, nadar, cinema e música, pessoas, Natureza, animais. Que gosta de sol e de mar, mas também gosta muito de ver a chuva a cair e ouvir a trovoada. Que aprecia a sinceridade e detesta a hipocrisia. Que adora mousse de manga e detesta dióspiros.

Porque começou a escrever?

Sempre gostei muito de ler. Quando descobri a Biblioteca Gulbenkian devorei todos os livros com as características que me agradavam mais (aventura e mistério), até repetindo a leitura. Cheguei a um ponto em que não havia nenhum livro que eu não tivesse ainda lido, por isso decidi que, para ter algo novo, teria de ser eu própria a escrever. No entanto, no ensino primário já escrevia pequenas histórias e aos 3 anos inventava-as, criando personagens e fazendo os vários diálogos sozinha. Entretinha-me assim durante horas.

Enquanto escritora conta já com vários títulos nas bancas. Como foi o início desta aventura?

Emocionante, desde que escrevi o primeiro livro, aos 11 anos, um livro de aventuras que, na altura, era o que eu mais gostava de ler. A partir daí, nunca mais parei. Desde livros de aventuras, a romances, passando a livros para os mais pequenitos… Sempre acreditei nas minhas capacidades e na concretização dos meus sonhos e nunca desisti por mais obstáculos que encontrasse, por mais negativas que recebesse. Comecei a enviar as minhas histórias para as editoras, escritas à mão, a partir dos 13 anos. Nunca desisti de concretizar o meu sonho mais querido: a publicação de um dos meus livros. A minha persistência finalmente foi recompensada. Para terem uma ideia da dimensão dessa persistência, esperei 16 anos para publicar o primeiro livro, que só se concretizou quando já tinha 29 anos, com a publicação de “A Floresta Encantada”.

É muito diferente escrever para o público infantil, juvenil ou adulto? Que dificuldades encontra ao escrever para cada um?

É diferente no sentido em que nos temos de adaptar à linguagem da faixa etária para que vamos escrever e termos a sensibilidade de lhes despertar o interesse e o prazer da leitura. Também tenho sempre a preocupação que o livro tenha uma componente pedagógica, transmitindo-lhes valores importantes e a aquisição de variados conhecimentos. Gosto igualmente de lhes estimular a imaginação e incentivá-los a amar a nossa Língua e a nossa História. Sendo uma escritora multifacetada, gosto de escrever para qualquer público e por isso não encontro qualquer dificuldade nisso. Sinto a maior satisfação em saber que acompanho os leitores desde pequenitos até adultos, e tenho imensos casos de miúdos que cresceram, andam agora na universidade e mesmo assim continuam a adquirir todos os meus livros, mesmo os infantis e juvenis. Outros continuam a adquiri-los também para novos elementos da família. É um orgulho para mim saber que os meus livros passam de geração para geração e continuam a agradar.

E as vantagens? Tem preferência por escrever para algum público alvo específico?

Vantagens, em relação aos livros infanto-juvenis, só se for um contacto mais próximo com os leitores mais jovens, devido às muitas sessões de incentivo à leitura que faço em escolas e bibliotecas. Recebo o seu retorno imediato, o seu entusiasmo, o seu carinho, a sua curiosidade, a sua simpatia. Muitas escolas trabalham os meus livros e depois também sou convidada a estar com os alunos e é sempre uma imensa alegria para eles e para mim também. Acho que me divirto tanto como eles. Em relação aos livros para adultos, a vantagem é divertir-me a escrevê-lo durante muito mais tempo, porque exigem uma maior elaboração o que lhe dá uma dimensão que poderá atingir mais de 500 páginas. Não tenho preferência, pois gosto de escrever para todas as idades.

Como se prepara para escrever um romance histórico como “O Último Conjurado”, por exemplo?

Faço imensa investigação e leio tudo o que houver sobre a época escolhida para ficar a par de todos os acontecimentos, quais os costumes, como se vestiam, como falavam, o que comiam, o que bebiam, de maneira que me sinta transportada para a época e a viver lá, convivendo com as personagens que existiram e com as romanceadas por mim. E é assim que consigo transmitir essa sensação aos meus leitores. Ao longo da pesquisa, vou tendo também inspiração para escrever determinadas partes que irão fazer parte do enredo ainda na minha cabeça. Tiro apontamentos que, depois da intensa pesquisa realizada, desenvolverei. Às vezes, é como um puzzle onde vou colocando as peças (partes do livro) em determinado local, neste caso, os capítulos onde acho que encaixam melhor.

Diga-nos, onde vai buscar a inspiração para escrever os seus livros infanto-juvenis?

À minha imaginação desenfreada e à minha costela aventureira e infantil. Acho que é algo que nós, ao crescermos, acabamos por perder, mas, felizmente, comigo isso nunca aconteceu. Uma parte de mim continua a ser uma criança que adora aventuras, mistério, suspense e rir até chorar.

Sabemos que tem presença assídua junto das escolas divulgando os seus livros. Como é recebida junto dos mais jovens?

Da melhor forma possível; com muita alegria e emoção, afecto, curiosidade e admiração. É extremamente gratificante estar com eles, porque a relação de proximidade é tão grande que acho que sentem que sou um deles. Costumo dizer que devo ter os melhores leitores do mundo!

Alguma vez recebeu alguma crítica diferente/engraçada/depreciativa de algum leitor mais novo numa ida às escolas? Pode contar-nos?

Recebo imensos telefonemas, e-mails, mensagens de leitores, o que aprecio sempre muito, desde uma brasileira que gostava tanto de um livro meu, “Sofia Gama e a Profecia do Templário”, que o leu 8 vezes e ainda mandou fazer um medalhão de ouro igual ao que a personagem usa no livro; um leitor alentejano de doze anos que leu esse mesmo livro 11 vezes; um miúdo sobredotado que descobriu “O Último Conjurado” e leu-o às escondidas dos pais, aos 8 anos, imaginem!, e que a partir dai continuou sempre a lê-lo, levando-o para onde quer que fosse, praia, campo, viagens, dormindo até com ele debaixo da almofada, até ficar completamente esfarrapado e a mãe ter ido comprar outro para o substituir. Adorei quando ela me contou esta história, porque esse livro é direccionado para adultos; um leitor de Leiria que é disléxico e não gostava de ler, nem nunca tinha conseguido ler um livro até ao fim. Com OS AVENTUREIROS passou a conseguir e, melhor ainda, a gostar de ler, embora só leia esta colecção. A sua alegria, quando fui à escola, o seu orgulho e entusiasmos em contar-me isso, emocionou-me imenso. O pai, professor nessa escola, informou-me também, muito comovido, que agora as pessoas da família lhe oferecem os livros dos Aventureiros por saberem que ele adora lê-los.

Um jovem de 25 anos que arrastou a namorada ao lançamento de um livro juvenil, a qual me contou que ele não desistiu enquanto não a convenceu a ler um livro meu. De salientar que quando o conheci aos oito anos de idade ele detestava ler, mas passou a gostar com os meus AVENTUREIROS e desde aí dedica-me uma amizade muito especial. E tenho imensos casos assim, de crianças e jovens que não gostavam de ler e aprenderam a apreciar a leitura com os meus livros. Muitos professores os recomendam aos casos mais difíceis de aversão à leitura, tendo por experiência que OS AVENTUREIROS os conseguem cativar.

Tenho tantos casos que encheriam várias páginas com essas narrativas. Há uns anos, houve uma ocasião muito engraçada de um miúdo de 5 anos que queria à força que eu autografasse um livro (penso que era o Noddy), já que eu autografara os livros do irmão, por sinal dos Aventureiros. Quando eu lhe disse que não poderia autografá-lo porque não fora eu a escrevê-lo, olhou-me nos olhos, muito indignado e ofendido, e perguntou-me então porque não escrevia eu para os meninos mais pequenos também, se não gostava deles também? E foi devido a esse e a muitos outros que surgiram “O Fantasma das Cuecas Rotas”, “Um Sonho Muito Interessante”, “O Coelhinho Avarento”, “As Aventuras do Xico-Larico”… A única depreciativa que tive, sem o ser realmente, é que centenas de leitores estão à espera do desfecho da trilogia “Porto do Graal” e estão sempre a perguntar-me pelo terceiro livro. Já tive outros leitores adultos que me disseram que quando acabaram o romance histórico que estavam a ler queriam que ainda fosse maior, o que me diverte sempre muito, pois os meus romances costumam ser extensos. Uma professora que me convidou a dar uma palestra na Universidade Sénior, em Carnaxide, quando informei os alunos que tive uma leitora que leu “A Demanda do Mestre” (actualmente esgotado), em 3 dias, disse-me que então o recorde seria dela, pois lera-o em 2 dias. A título de curiosidade, “A Demanda do Mestre” tem 649 páginas…

Como é ser escritora em Portugal?

É um prazer, porque escrevo muito sobre a História de Portugal e ela é riquíssima, dar-me-á sempre matéria para romances históricos deveras interessantes e empolgantes; é gratificante, porque sei que sou muito querida dos leitores e continuo sempre a fazer novos leitores que me recomendam a outros; é emocionante saber que concretizei o sonho que acalentava desde criança e que nem nos meus momentos mais optimistas imaginei estar agora onde estou; é ambicionar que os meus livros sejam traduzidos para outras línguas, para alcançarem um universo mais vasto de leitores. Mas ser escritora em Portugal é também ter de aceitar a injustiça dos meus livros ainda não terem entrado no Plano Nacional de Leitura; é saber, porém, que houve uma pessoa que esteve à frente do PNL, que boicotou sempre os meus livros, simplesmente porque faziam concorrência aos dela, tendo até a arrogância de o dizer ao meu editor. É lidar com isso da melhor maneira possível, sabendo que por algum mistério, o boicote deve ter-se transformado numa espécie de herança que vai passando de uns para os outros, ano após ano, a não ser que também seja por eu não ter qualquer lobby que facilite esse caminho. Felizmente, isso não tem impedido os Professores e Educadores de recomendarem os meus livros aos seus alunos, mesmo àqueles que não gostam de ler. O meu lema é uma frase, que atribuem erradamente ao nosso Fernando Pessoa, e com a qual me identifico. “Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo”. E tenho construído muitos!

Como avalia a leitura em Portugal? Há esperança numa geração que leia mais e melhor? Ou estamos “no mau caminho”?

Pela minha experiência, é boa. Nas escolas encontro sempre muitíssimos leitores que adoram ler, vibram com os livros. Há esperança no sentido em que as Educadoras fazem um excelente trabalho desde muito cedo com as crianças, lendo-lhes histórias, dinamizando-as, despertando-lhes o interesse em as ler. Os professores também fazem um trabalho muito louvável no mesmo sentido. Em casa esse trabalho também deve ser feito, pois é lá que deve ser o início de tudo. É muito importante que os pais consigam tirar uns minutos do seu atarefado dia para lerem livros aos filhos, pelo menos, ao deitar, sempre um bocadinho. Isso é meio caminho andado para as crianças crescerem com os livros, a gostarem deles e a tornarem-se bons alunos. Não é à toa que os melhores alunos são excelentes leitores. Todavia, e não menos importante, é também a escolha do primeiro livro que a criança vai ler, porque se não estiver interessante e atractivo a criança pode ficar com má vontade contra eles, cria aversão aos livros. Os pais devem escolher muito bem esse livro. Deve ser divertido, emocionante, cativante e transmitir algo importante, pois o livro é uma ferramenta essencial na formação e educação da criança, pois pode transmitir-lhe bons valores e ajudá-las a distinguir o bem e o mal.

Tem mais livros para saírem da gaveta? Mais algum romance histórico?

Sempre. Actualmente, estou envolvida numa investigação muitíssimo pormenorizada para o próximo romance histórico. Além desse, pretendo retornar às invasões francesas, em continuação de “A Revolução da Mulher das Pevides”; o 10º e 11º livro dos A sairão em Março e Outubro de 2018; já em Janeiro deverá sair um para o público mais infantil, “A Morceguita Destrambelhada”, na Porto Editora, e ainda este ano deverá sair também, nas Edições Saída de Emergência “Os Desastres de Quintch-Pintch”, segundo volume da série “Contos do Bosque Sempre Verde”. Pretendo ainda terminar a trilogia referida antes, bem como acabar de escrever o 12º volume dos .

Além dos romances históricos, pondera voltar a escrever outro tipo de romances ou ficção para adultos?

Sim. Tenho outro livro publicado para adultos que não é um romance histórico. Houve uma altura em que me apeteceu enveredar pela literatura policial, nascendo assim “Crime e Sedução”. Pretendo escrever outros, em altura oportuna.

O que pensa ser necessário para se conseguir escrever um bom livro?

Imaginação, persistência, sensibilidade de saber como cativar os leitores e muito, muito trabalho.

O que pensou ao ver-se "criticada" em Livros de Vidro?

Apreciei imenso e fiquei até emocionada. É sempre entusiasmante ver alguém a comentar o nosso trabalho e descobrir o que sentiu.

O que aconselha a quem nos segue e quer ler os seus livros?

Se gostam de aventuras, comecem por um título dos Aventureiros, pelo nº 1, por exemplo, para saber como tudo começou. Com os romances históricos podem começar por qualquer um. Os infantis são muito apreciados por miúdos e graúdos que se divertem a valer com eles. Talvez fosse boa ideia dar uma espreitadela ao meu site: www.isabelricardo.com, pois estão lá todos os livros, e lerem as sinopses, para verem qual o que mais os entusiasma. Depois de lerem o primeiro, irão ter a curiosidade de ler os outros.

Por fim, onde poderão ser adquiridos os seus livros?

Os meus livros podem encontrar-se em qualquer livraria, tal como nas Bertrands, Fnacs, Wook e até nas grandes superfícies, excepto os que estão esgotados. No entanto, ainda possuo alguns e por isso tenho sempre possibilidade de os disponibilizar quando os leitores os solicitam, ou por e-mail, ou por telefonema… Esqueci-me de informar que costumo deixar o meu contacto nas dedicatórias e por isso os leitores podem, e costumam, contactar-me sempre que o desejam.

Deixamos o nosso agradecimento à autora pela disponibilidade.

Eu é que agradeço o amável convite que me endereçaram e… Boas leituras para 2018.

Janeiro 2018

Deixamos um agradecimento à autora pela disponibilidade.

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imagem retirada da página de facebook da Autora

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