top of page

À conversa com a escritora Filipa Fonseca Silva


À conversa com...

Filipa Fonseca Silva

Filipa Fonseca Silva nasceu no Barreiro em 1979. Licenciada em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica, preferiu a publicidade ao jornalismo, tornando-se redatora publicitária em 2004, profissão que ainda exerce. Sonha tornar o mundo mais verde e espalhar histórias bonitas. "Os Trinta – Nada é como Sonhámos" foi a sua primeira obra publicada, seguindo-se-lhe "O Estranho Ano de Vanessa M." e "Coisas que uma Mãe Descobre". É a única portuguesa a ter chegado ao Top 100 da Amazon em todo o mundo. Além de escrever, adora pintar, colecionar sapatos e comer melancia. Vive em Lisboa com o marido e os filhos. (Biografia disponível em wook.pt )

Livros de Vidro - Está disponível a sua biografia na internet que nos dá conta do seu percurso profissional e enquanto escritora. Mas queremos saber um pouco mais, quem é, na realidade do dia a dia e nas profundezas do ser, Filipa Fonseca Silva? Conte-nos um pouco mais.

Filipa - Sou uma pessoa com um espírito muito irrequieto, que é talvez a característica que me permite conseguir conciliar a escrita com os meus projectos profissionais (neste momento são dois!) e uma casa com dois filhos pequenos. Sou introvertida e adoro estar sozinha, porque lá está: tenho tantas ideias na cabeça que só a solidão me permite ouvir as várias vozes na minha cabeça; mas tenho os meus momentos de precisar muito de sair e estar rodeada de amigos.Sou feminista e uma activista pelos direitos humanos e pela protecção do ambiente, embora o faça fora de movimentos organizados por ser apolítica. Sou benfiquista com lugar cativo no estádio, o que me torna pouco imparcial quando se fala de futebol.Não vivo sem estar rodeada de arte, seja pintura, música ou literatura e, desde que sou mãe, tenho como objectivo criar seres humanos honestos e solidários, que no futuro possam fazer a diferença neste mundo tão disfuncional. Tenho um grande sentido de humor, coisa rara nos dias que correm.

Como surgiu a escrita na sua vida?

Surgiu muito naturalmente, até porque eu já criava histórias antes de saber escrever. Depois fui sempre escrevendo ao longo da vida, desde um diário que iniciei aos 8 e ainda mantenho, a contos, poemas e mais tarde o blogue. Até que, quando fiz trinta anos achei que estava na altura de experimentar escrever um romance. E correu bem. Já publiquei três e tenho um quarto em desenvovimento.

No blogue falei do seu mais recente trabalho “Odeio o meu chefe”, um livro que retrata em muito a realidade laboral dos portugueses quando têm de lidar com chefes. Diga-nos, como surgiu este livro? Teve muitas experiências semelhantes?

O livro é baseado precisamente nas minhas experiências e em experiências partilhadas por amigos, colegas e até leitores. Ou seja, todas as histórias ali ilustradas aconteceram mesmo. Começou por uma brincadeira no Instagram para exorcizar o mau bocado que quer eu quer o meu marido estavámos a passar a dada altura nos nossos empregos. Mas a coisa foi crescendo e, à medida que publicava as ilustrações, fui percebendo que toda a gente se identificava com aquilo e toda a gente tinha uma história surreal para contar. Até que um dia mostrei ao meu editor, Eduardo Boavida, e ele achou que daria um belíssimo livro.

Para quem ainda não conhece ainda os seus anteriores trabalhos, fale-nos um pouco sobre eles. Como vão surgindo os temas?

Os meus três romances surgiram todos de maneiras diferentes. Não tenho uma fórmula. O primeiro (Os 30 – Nada é como sonhámos) é um pouco mais autobiográfico, e fala das desilusões – amorosas, laborais, e outras – de um grupo de amigos de longa data que não se juntava há muitos anos e se reúne para um jantar. A acção é toda passada durante essa noite.O segundo (O Estranho Ano de Vanessa M.) nasceu de uma notícia que li de uma mãe que abandonou a filha no meio da rua por esta estar a fazer uma birra e seguiu com o carro, tendo sido presa quando voltou para a apanhar. Construí a história ao questionar o porquê dessa decisão impulsiva, o que levará alguém a chegar a esse ponto, reflectindo acerca de imposições sociais e do medo que muitas vezes nos faz levar vidas que não nos preenchem.O terceiro (Amanhece na Cidade) é narrado por um táxi e conta as histórias de todas as pessoas que entram e saem dele, a comçar pelo taxista. Aborda temas como a solidão, a infidelidade, os sem-abrigo, os refugiados, a intolerância, tendo por cenário a cidade de Lisboa, que é a cidade da minha alma.Pelo meio ainda publiquei um livro de crónicas sobre a minha experiência como mãe (Coisas que uma Mãe Descobre e de que ninguém fala), o qual, de forma humorística e brutalmente honesta, mostra que estar grávida e ter um bebé em casa não é o mundo cor-de-rosa que nos vendem por aí.

O que necessita para escrever? Como consegue reunir a inspiração certa para iniciar e terminar um livro?

Um caderno, uma caneta e um computador. E de estar sozinha. Quando não é possível estar fisicamente sozinha, ponho os auscultadores e música bem alta. A inspiração, essa, é como dizia Picasso: é esperar que ela nos apanhe a trabalhar.

Houve momentos em que quis desistir? Se sim, quais e porquê?

Nunca tive vontade de desistir de escrever. Aliás, não imagino a minha vida sem escrever. É totalmente impensável. E depois tenho uma base de leitores fiéis que me escrevem para confidenciar que se identificaram com esta ou outra personagem, ou que também já passaram por determinados episódios que descrevo, ou que lhes tocou certa mensagem que deixei nas entrelinhas, e esse carinho, o saber que há alguém que não me conhece mas a quem as minhas palavras tocaram, só me faz querer escrever mais.

Como definiria o seu estilo de escrita?

É um estilo muito despretensioso e coloquial. Mais na tradição anglo-saxónica do que portuguesa, com muitos diálogos e capítulos curtos. Um estilo cinematográfico.

Com que escritor se identifica?

Em estilo de escrita talvez com o Nick Hornby ou a Sue Townsend. Mas enquanto leitora definitivamente Saramago e Eça de Queirós.

Há mais livros para sair da gaveta? Se sim, dentro do mesmo género? O que nos pode contar?

Acabei recente o meu quarto romance, que está neste momento nas mãos dos meus editores. É uma história de amor entre um jovem casal que é obrigado a falar um com o outro sobre aquelas coisas de que nunca se falam quando se vive com alguém muito tempo.

Na era do digital e sendo a Filipa profissional da área da publicidade, como encara a possibilidade de os seus livros serem objecto de crítica e opinião divulgada em blogues e no youtube com acesso fácil de qualquer leitor?

Eu acho óptimo que as pessoas critiquem os meus livros, seja em que plataforma for. Até hoje todas as críticas que li foram honestas, fruto de uma leitura cuidada e isso, para mim, é o mais importante.

Como se sentiu ao ver o seu livro alvo de opinião no blogue? (Opinião)

Gostei muito. Aliás, 9.8 é uma classificação olímpica! Fiquei muito feliz.

Como lida, no geral e honestamente, com a crítica aos seus livros?

É sempre difícil ler uma crítica menos boa e não levar isso a peito. Mas como escritora não tenho a pretensão de agradar a toda a gente. Não escrevo para agradar seja a quem for. Escrevo para partilhar histórias e mensagens que considero relevantes.

Como têm sido recebidos os seus livros pelo público?

Muitíssimo bem. A quantidade de emails ou mensagens nas redes sociais que recebo todas as semanas é surpreendente, mesmo ao fim de sete anos a publicar. Fico muito grata e orgulhosa.

Por fim, quer deixar alguma mensagem a quem segue o blogue e que possa estar curioso para ler os seus livros?

Leiam-me. Só assim poderão perceber se gostam do que escrevo.

Deixo, desde já, o meu agradecimento à autora pela confiança e disponibilidade.

Os livros da autora:

Destaque
bottom of page