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Opinião: "Cadáveres às costas", Miguel Real


"Cadáveres às costas"

de Miguel Real

Bom dia leitores, hoje trago-vos mais uma opinião. Pois é, demorou um pouco a chegar, mas cá está.

Este livro demorou muito a ler. E, a bem da verdade, custou-me muito a lê-lo.

Não é um livro mal escrito. Porque se o dissesse estaria a mentir. No entanto, é demasiado extenso. São quase 500 páginas e se estivesse reduzido a metade não se perdia nada.

Tem momentos interessantes mas que se perdem no meio de tanta "conversa", como se costuma dizer, muita palha.

Este livro está dividido em aparições. Sim, como as de Fátima e com isso relacionado. É uma trama que se desenrola durante o ano de 2017 e é narrado por um jovem na casa dos vinte e poucos anos.

Este jovem, no início do enredo, perde o pai num acidente de viação e, mais tarde, descobre que o mesmo mentira à mãe, não estando a dirigir-se para uma conferência mas antes sim, indo ter com uma amante. Daqui surge a determinação da mãe em descobrir quem era a amante, a misteriosa "S" e aliado a isso, a mãe do narrador entra em depressão.

Acresce que, este jovem quer escrever um livro, com esse intuito e buscando inspiração instala-se num palacete pertencente à família Peralta Perestrêllo, uma família aristocrata, ligada à escravatura - nos tempos idos da mesma - e também ao regime repressivo que Portugal viveu, nomeadamente, ligada à PIDE.

A matriarca da família faz nesse ano 100 anos, precisamente na altura do centenário das aparições de Fátima. A matriarca, D. Consoloção, começa a ser visitada por Lúcia que lhe aparecerá todos os dias 13.

Acho que temos todos os ingredientes para um bom romance. A história privada do narrador que se debate com a crise da mãe e a tentativa de descoberta da misteriosa "S", amante do pai. Passando pelas aparições e por todo o circo mediático e religioso que se monta à sua volta. Outro ponto que também acompanhamos é a descoberta da história familiar da família Peralta e a forma como esta se enreda na vida do narrador.

Como vêm, os ingredientes estão cá. Há referências e algum sarcasmo. Mas, para mim, tudo acabou por se perder no meio de tanto texto. É que é texto corrido. As falas estão embrenhadas no meio de tudo o resto. O que comigo não resulta e atrasa ainda mais a leitura pois tenho de voltar atrás para ler como se fosse uma fala de um personagem.

Decididamente este livro comigo não resultou. Não me fascinou e tornou-se pesado.

Tem um final interessante, no entanto, tudo o resto não me convenceu. Lá está, o livro reduzido a metade tinha ganho em muito.

Classificação:

- Escrita: 7

- História: 7

- Revisão do texto: 9

- Complexidade: 5

- Trabalho gráfico: 9

Total: 7,4

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Dom Quixote

Sinopse

Após a morte do pai, um jovem abandona o curso de Direito e aluga um pequeno apartamento no sótão de um palacete de Lisboa, com o fito de escrever um romance. Aí vive a família Peralta Perestrêllo, cuja matriarca centenária - d. Consolação, há muito acamada - é visitada no dia 13 de Maio de 2017 pela aparição da irmã Lúcia, após o que consegue erguer-se e dar uns passinhos. Filho, nora e netos ficam hesitantes quanto a acreditar no suposto milagre; mas cada um a seu modo (e também a Igreja, chamada imediatamente para avaliar a situação) descobre como retirar dividendos do episódio - o mesmo acontecendo, aliás, com o jovem escritor que, sem ideias para o seu romance de estreia, tem subitamente um filão ao dispor, para não falar do seu interesse pela neta mais nova da miraculada… Porém, entre as aparições, a depressão da mãe viúva, a história secular do palacete e o passado e presente da família Peralta, que não se recomenda, chegará a escrever uma página que seja? Cheio de humor (mas também de crítica e até de alguma verrina), Cadáveres às Costas é um romance admirável sobre Portugal (e a mentalidade portuguesa) que, apesar do século xxi, ainda não conseguiu curar-se de muitas das feridas do passado.

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