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Opinião: "A valsa dos pecados" de Carlos Porfírio


"A valsa dos pecados"

de Carlos Porfírio

Bom dia leitores, cá estamos com nova opinião.

Hoje trazemos aquele que é o segundo livro de Carlos Porfírio sujeito a opinião aqui no blogue. O primeiro "Caídos da mesma árvore" - podem ler AQUI - agradou-nos e surpreendeu-nos por nos conseguir prender sem, no entanto, ter muitos diálogos.

Normalmente defendemos que as histórias que lemos deverão ter diálogos para que a leitura não se torne monótona. Até porque, para que um livro sobreviva sem eles, é preciso que um autor tenha muita habilidade na forma de escrever. O que é raro encontrar.

O livro chegou-nos através do próprio Autor, o que por um lado nos lisonjeia, pelo reconhecimento, mas que faz com que encaremos o livro com maior responsabilidade. Pois queremos ser sempre sinceros sem que com isso acabemos por ofender os autores, que tão simpaticamente nos querem fazer chegar os seus trabalhos.

A verdade é que, quando pegámos neste novo livro de Carlos Porfírio reparámos que o mesmo não tinha os já referidos diálogos. Sentimo-nos cépticos, é verdade, e algo apreensivos. Depois, o tema não sabíamos se seria o mais indicado para nós. Um romance passado, na sua maioria, durante a Guerra Colonial.

Mas devemos dizer que fomos surpreendidos. Encontrámos um livro desprovido de diálogos. Inteiramente corrido. Quase como uma conversa do personagem principal, que mais tarde percebemos serem as memórias que o mesmo escreveu a dada altura da sua vida.

O Autor conseguiu prender-nos do início ao fim. Mais tempo tivéssemos disponível e não teríamos largado o livro até o termos terminado. Tivesse existido um feriado pelo meio, durante esta semana, e tê-lo-íamos lido duma assentada só.

Não vos podemos identificar a personagem principal, pois o autor não dá nomes às personagens. O narrador/personagem principal, vai tratando aqueles que com ele se cruzam através de alcunhas (a rapariga das tranças, o embaixador, a mulher, a tailandesa, etc).

Quando iniciamos a trama, começamos por ler a narração de um crime e o narrador a prestar auxílio a uma jovem que se encontra nua no meio da estrada. A partir daí, acompanhamo-lo nas suas aventuras ao longo da sua vida.

Desde a investigação do crime, ao recrutamento para a guerra, a guerra, o regresso à vida civil, o casamento, o sucesso, a solidão, a vida, a doença. Tudo.

Um romance que não nos permite agarrar um nome e com isso identificar este personagem. Mas que é um romance que nos envolve e acaba por arrebatar. Vivemos a paixão eterna do narrador pela "rapariga das tranças". Afeiçoamo-nos a este personagem que vai crescendo. Que vai amadurecendo. Que se torna um dos homens mais ricos.

Uma trama que anda entre Angola e Portugal mas sem nunca nomear países e terras. Sem nomear nomes. Tudo fica a cargo do leitor. Mas as descrições são feitas de tal maneira que não deixa margem para dúvidas ao leitor.

Carlos Porfírio tem-se revelado um verdadeiro escritor. Temos pena de não encontrar os seus livros por todas as livrarias com o devido destaque. Sem dúvida um escritor a ter debaixo de olho. A cada livro que temos lido, temos ficado cada vez mais fãs da sua escrita. O que tem sido raro. Não temos encontrado verdadeiros escritores.

Adorámos este livro. Tão bem escrito. Tão bem conseguido. Tão suave de se ler. Tão real e apurado. Com notas de humor, com mensagens para transmitir. Da juventude e pujança à doença e loucura. Vivemos uma vida inteira em menos de 300 páginas.

Recomendamos!

Classificação:

- Escrita: 10

- História: 10

- Revisão do texto: 10

- Complexidade: 9

- Trabalho gráfico: 8

Total: 9,4

0 - Péssimo

1 a 3- Muito Mau

4 a 5- Mau

6 a 7- Satisfatório

8- Bom

9 - Muito Bom

10 - Excelente!

Mais informações em: Âncora Editora

Sinopse

O desaparecimento misterioso do pai e a polémica que se gerou à volta deste e de outro acontecimento mudam os alicerces do narrador da história. Os anos que se seguem são marcados pela guerra, por um amor apaixonado mas ameaçado de barreiras, pela forma como se escraviza na teia dos seus sentimentos, pela embriaguez do enriquecimento, por uma relação adúltera que o milionário esconde da lei dos homens e dos juízos morais. Juízos morais que nos levam a uma interrogação de fundo: de onde vem a cultura, como se generaliza? Através de uma história intensa e a espaços divertida, A Valsa dos Pecados de Carlos Porfírio questiona ideias feitas, e até onde a ambição nos pode levar. Um romance corajoso e desconcertante que ficará certamente na memória dos seus leitores.

Destaque
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